quinta-feira, 20 de maio de 2010

Contra o mar


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Sou Andante triste
Passos solitários na areia
Em que o mar destrói pegadas
Quisera eu que levasse minhas mágoas
Que o coração me desse trégua
Que eu pudesse seguir em paz as marcas que antes deixaste

Mas pra que lado anda uma alma perdida ?
Tanto faz

Não escuto o mar
Apenas tua voz
Agora me resta por companhia o oceano
Ele gigante , eu diminuto ... a sós

Não adianta jogar-me as águas
Vã esperança de alivio
Molham-me o corpo , mas a alma pesada permanece
Não se redime , não se perdoa , não lhe esquece
Fria a água
Fria a alma
Que não aquece

Nada que queira me seguir , me acompanha
E se assim insistir não vejo
Antes mergulhar no mar que mergulhar em si
Dele se sabe a profundidade
De nosso coração só se mede ... saudade
E saudade é sem fim
Ninguem que a sente sabe nadar
Morre cansado
Afogado

Então , apenas ando a beira da praia
Admiro a noite que chega
A lua que brilha
O sol que desmaia
Seus passos na areia se foram
E tudo que era seu , que existia ou existe
Ainda sós , eu e o mar
Tristonho , tristeza ... triste ...

Fabricio Marchi

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Alem da passagem da morte! Quando ainda existiam almas !


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Qdo a morte passar
Não a verás jamais então
Te escondi , acobertei , protegi
Peguei-te pela mão

Se ela te sorriu
A encobri com meu sorriso
Se ela te quis , foi infeliz
Fui mais preciso

Insistente , inconseqüente
Desafiei-a a morte
A própria morte não resiste a flor
A beleza do bem de quem quer bem
Sempre farei a morte passar
Com sua falta de fé , seu imediatismo , desespero ... dor
Se estás comigo a morte não vence
Pois a morte não vence ao amor

Vc não viu a sua face doentia
Apenas uma presença ruim
Empurrei , afastei , fiz o que eu queria
Quis que ela levasse a mim

A morte passou
A morte da alma
Não deixei que te abraçasse
Se me pertences , é minha
Longe de ti sim , não sozinha
Amenizei antes que acabasse

Penso estar machucado
Implacável morte que a tudo quer levar consigo
Salvo aqueles que resistem
Aqueles que insistem
Amam e protegem
Para esses nada está acabado
Qdo acordares , não terá sentido nada
Apenas acarinhada
E me verá ao teu lado

As feridas doem , desses golpes em que se é alvo
Passa a morte , passa a dor , abro-te meu sorriso
Estás a salvo ...

Qdo a morte passar
Não verás a ventania
Talvez nem verá que te consolo
Nem tampouco verás a tempestade
Apenas dormirá segura
Como sempre quis ... em meu colo ...

Fabricio Marchi

Tão longe , tão perto ... dentro


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Quando acaberes de me ver , me toque
Quando me tocares , me perca
Ao me perderes , deixe-me olhar-te
Distante olhar distante
Distancia essa de nossas bocas
E me encontrarei perdido
Nesse reflexo dos teus olhos
E me encontrarei ... em sua boca...

E ao falares meu nome , não atenderei
De seu coração apenas ouço a voz
Ao encostar em teu peito
Dois corpos e o leito
Das palavras que não se pronuncia
De todo amor que se anuncia
Da saliva que se delicia
Algo que não há jeito
Imperfeito amar que não realiza
Tudo aquilo que justo for
A palavra precisa
Quem não conhece amor

E ao tocar-me saberá
O quão distante estamos
Onde teus gemidos ecoam em minha boca
Teu suor em mim transpira
Onde não preciso mais saber quem sou
Onde dentro de ti estou ...

Fabricio Marchi

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SEM HIPOCRISIA - o que se passa na mente de quem se diz do Bem ...(parte 3)


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Coragem criarei para os inimigos que eu próprio criei , vencer
E por mais que eu saiba não ser coragem ou virtude
Galgarei em seu dorso e iludirei-me
Pois ninguém sabe de meus fracassos
E eu sorrirei falsamente as honras que recebo
Medalhas e condecorações de batalhas redundantes
Que eu mesmo inventei
Fui coroado sem gloria
Mas sou elevado nos braços de quem não sabe das minhas derrotas
E dormirei numa paz que não existe
Mas precisei molda-la para não morrer

Crêem inocentemente no meu heroísmo
E assim quero e ordeno que seja
Do poço das hipocrisias bebi fartamente
Mal sabem que desisti da batalha
Que ao menos nem tentei lutar
E trouxe em mim um corpo que não é meu
Do meio do sangue das batalhas
Esperei silencioso que todos morressem
Para que pudesse voltar sobrevivente
E receber em equivoco
As palmas , os sorrisos e a festa

Aos que sabem disso matarei
Para que não me assinalem ou apontem meu peito
Rasgarei-lhe a voz e os sentimentos para que não me julguem
Assim posso então cavalgar soberano
Em minha terra de fantasia
Onde só eu sei o meu valor
Onde junto aos cadáveres enterrei minha real aparência
Para que apenas minha mascara e armadura brilhem
Ofuscando os olhos de quem quer me vencer pelos meus medos
Sou agora impassível e dos meus segredos
Só eu posso combater

Escreverei poemas e escolherei palavras fortes
Para anunciar meus feitos
E por mais que eu saiba que são imperfeitos
Farei o desconhecido cair em prantos
A olhar-me como exemplo

Assim sou ...
Feliz diante da minha tristeza
Curve-se pois não lhe dei o direito de duvidar-me
E mesmo que saiba do que trilhei
Negarei

Sorriam , pois sou o rei
Inatingível por suas adagas
Minha cavalaria é meu escudo e minha espada
Não me restou do reino nem castelo , nem amor ... NADA
Mas loucamente defendo o que creio
Não temo a morte ou as feridas
Mas minha face diante o espelho !

Que rei eu sou , se me falta coragem ?
Se desisti da viagem
Mas disso já não preciso mais
Reinarei meus escombros , como se no paraíso erguera meu reinado
Meu trono é brilhante e imponente
Mas minha alma rasteja pelos calabouços escuros...

Fabricio Marchi