sábado, 19 de junho de 2010

Pequena cronica sobre a velhice e o tempo que se foi ...


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Adquiri a estranha mania de olhar nos olhos dos velhinhos
Ou nem tão velhos assim
Sentados em suas varandas a olhar o dia que se vai
Ou fazendo suas compras no supermercado
E entre uma gôndola e outra percebo quão distantes observam
Contemplando algum desencontro entre o falso descanso da cadeira de balanço
E seu sorriso contido , como se quisesse dizer algo

Das suas gavetas cheias de remédios
Muitos deles são como pílulas da sobrevivência
Não pq são necessários de verdade
Mas pq sem eles a vida se torna insuportável

Uns tranqüilizam o monstro que a anos atormenta
Outros acordam a esperança de que ainda há chance
Mas ao fim do efeito ... caem os pedaços !

Vejo nos olhos de muitos a serenidade
Da felicidade vivida plenamente e que agora merecem descanso acalentando e ensinando a quem não sabe andar na vida
Mas a grande maioria me parece um tanto frustrada pelo caminho que fizeram

Uns acordam e corajosamente sorriem com vontade
Noutros é apenas um outro dia para sofrer

E das varandas , cabisbaixos e sem muito entusiasmo
Pedem em silencio ... socorro

Dirão que a vida foi assim !
E como marionetes de uma peça de teatro assistido apenas por elas
Percebem que ninguém lhes agraciaram com palmas
E voltam a contar seus feitos inúteis a quem lhes dedica alguma atenção

E assim fixo meus olhos neles
Algo como “Enxergar o meu futuro”
E pelas ruas observo os olhos deles
Acredito que se perguntados da hipotese de voltarem ao passado e mudar algo
Fariam dividas e pagariam sorridentes essa possibilidade
E até dormem sonhando com isso
Pq qdo sonhamos , todos nós nos tornamos o que queremos
E a grande frustração acontece todos os dias ao acordarem ...

Tudo deixamos para depois
“Amanhã dará tempo”
“Devagar se chega ao longe”
“Qdo me aposentar , farei”
E a vida se vai ... até se encontrarem quietos a balançar o que lhes restaram
Numa dessas varandas por aí ...

Uns alegam sapiência
Outros Paciência
Nunca assumirão covardia
Pois tudo se resolve um dia

Então paro pra pensar que não quero ficar como eles
Sentir alegria por tanta acumulo de tristeza
Nem me achar forte por ter agüentado dores que não eram minhas
Muito menos falar horas e horas sobre as doenças que adquiriu
Dos tratamentos que fez
Dos filhos que lhe deixaram
Da solidão

Repensando nisso ... Gostaria de envelhecer só
Mas sabendo de cada passo que dei , e que foram dados conscientemente por mim
E que mesmo que surpresas vieram
Foram pq deixei que viessem

Não quero previsões e planejamento
Só não quero amargar um olhar tão triste como os que vejo
De vidas que poderiam ter sido tão mais aproveitadas
Que a vida pudesse ter sido regida
Passaram a ser meros expectadores de tantas manhãs e anoiteceres
E agora , embalados por um resto de vida
Esperam descanso a suas almas ...

Fabricio Marchi

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